Entrevista com Jairo Rodrigues,vocalista da Banda Periafricania




Composta por Jairo Rodrigues,Felipe ``Montanha´´ e pelo casal Cláudia e Mário Bibiano. A banda formada em janeiro de 2005 no Sarau da Cooperifa,surgiu pra fazer valer a voz dos excluídos.Com um belo mix de estilo que vai de letras conscientes e poéticas, à canções de critícas sociais.Toda essa mescla, faz dessa banda um diferencial no hip-hop nacional.A vocalista Cláudia é um grande divisor de águas.Dona de uma voz doce e sensual,ela faz das melodias verdadeiras maravilhas,dando um toque divino e magistral nas canções.Um dos ápices da banda,com certeza.
No primeiro CD da banda foram gravadas seis faixas das quais podemos destacar: Um Rolê e O Amanhã,mixadas pelo renomado produtor Erick 12, que já trabalhou com outro conceituado grupo de rap, o Facção Central.Para 2008 está em andamento o projeto de um novo disco e o primeiro videoclip da galera.È só conferir o que vem por aí.

Hollophamma:O Periafricania surgiu em 2005,no Sarau da Cooperifa,e ganhou esse nome inspirado em uma poesia do Mc Gaspar,dar orgulho ser uma das maiores referências culturais para a periferia?
Jairo Rodrigues:
Com certeza.Nosso trabalho é sério,lidamos com vidas e existe muita responsabilidade em tudo que fazemos e é claro que tudo que é feito com muito amor e dedicação acaba despertando olhares,mas sabemos lidar com isso.

Hollophamma:O estilo peculiar de vocês vai totalmente de encontro com a consciência,atitude e poesia,o que não vemos com frequência em muitos grupos e cantores de rap.Já sofreram algum tipo de discriminação por não seguir a linha de quem faz certos tipos de apologia?
Jairo:
A música é infinita e assim também é a poesia.Respeito as formas e os estilos de cada um.Não acredito muito em apologia,muitos relatam uma realidade vivida,porém o Periafricania se preocupa mais em informar incentivando a molecada a estudar,a ler ,etc e tal,relatando o que vivemos e sentimos.
Hollophamma:O que vocês estão achando dessa onda literária que está emergindo das periferias para as classes mais letradas do país,quebrando de certa forma aquele estigma que na periferia só há violência e criminalidade.Qual a intimidade que vocês têm com a literatura já que o som da Periafricania transborda poesia?
Jairo:
A literatura é fundamental e estão descobrindo isso.Temos que incentivar a leitura para todas as classes periféricas independentes de raça,cor,credo e posição social. O poder da transformação tá na literatura,na arte e a escrita não tem dono.

Hollophamma:Vocês sempre tiveram uma relação com a cultura ou esse amor pela arte só surgiu quando conheceram o Sarau da Cooperifa?E o que isso mudou em suas vidas?
Jairo:
O Sarau da Cooperifa deu o ``boom´´,ali começamos a ler,a estudar,a debater assuntos que antes para nós eram obsoletos.Com certeza devemos muito á Cooperifa.Mudou nossa forma de ver o mundo e as coisas que acontecem a nossa volta.
Hollophamma:O hip-hop ainda é taxado por ser um movimento marginal e para muitos só serve para incitar a violência.Qual o panorama que você traça sobre essa polêmica?
Jairo:
Mano,assim foi com o samba que no início foi marginalizado.O hip-hop é feito pela periferia e fala muita verdade que incomoda alguns.A forma que são colocadas as palavras,a gíria é peculiar,é nossa é dos becos e vielas.O rap não foi feito pra alisar ninguém e sim pra bater de frente com a injustiça.Aí já viu o sistema,os caras não querem ouvir a verdade,aí fica mais fácil eles boicotarem.
Hollophamma:A mídia sempre deu mais valor para os enlatados americanos do que para a cultura de raiz,que é proveniente da periferia.Você acha que essa manipulação ajuda a alienar a mente dos jovens das comunidades,fazendo com que percam a sua identidade?
Jairo:
Opa!A TV e o sistema nos empurram pra onde eles querem,tipo lavagem cerebral mesmo,temos que tomar muito cuidado com o que vemos.A massa se informar.Tudo pelo consumo.

Hollophamma:O que levou a formação da banda?Foi pensando só em estar na mídia ou tinham o intuíto de passarem mensagens positivas sobre o cotidiano vivido na periferia?
Jairo:
O rap no Brasil não dá dinheiro,nós fazemos por amor á causa,no nosso grupo todo mundo dá um trampo(trabalho)e a nossa intenção é entreter,informar,abrir os olhos da molecada prum futuro melhor,longe das drogas,do álcool e não ficar de chapéu tolado(Metido em confusão).
Hollophamma:A indústria fonográfica nunca deu o espaço devido para os artistas de rap,que fazem um trabalho de qualidade.Na sua opinião,qual o real motivo desse descrédito?
Jairo:
Eles não confiam,eles querem dinheiro fácil.Mas,tá bom assimcomo tá, a gente faz no quintal mesmo,pros irmãos,numa praça,no centro da favela.Onde tiver nosso povo,a gente vai tá lá.
Hollophamma:A arte ajuda a reduzir os altos índices de criminalidade existentes na periferia?
Jairo:
Não tenha dúvida disso.A arte tem o poder da transformação,ela tráz a estima de volta,dá prazer em viver,só não pode se iludir e deixar subir pra cabeça,tem que os pés no chão.Tem que acreditar e ter fé que o mundo,com certeza conspira a favor.