Moda Sustentável


Andrêssa no seu ateliê


Andrêssa, copenetrada diante do logo da sua grife

Há quatro anos, a estilista brasiliense Andrêssa Faiad estabeleceu-se no pedaço, após realizar a sua primeira oficina de Moda Sustentável em São Paulo, no Brechó Túnel do Tempo, na rua Major Maragliano. Ela tinha o intento de propalar para todo país a sua inovadora e bem sucedida Oficina de Moda Sustentatável Callicore Style.
Formada em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda, pela Universidade Católica de Brasília, Andrêssa, que escolheu o bairro como quartel-general de sua arte, especializou-se em design gráfico, fotografia e direção de arte. Desde pequena apaixonada por alta costura, ingressou no mundo fashion após concluir os cursos livres de desenho de moda, corte e costura, estilismo, design de joias, alta costura, tecnologia têxtil e figurinismo para TV, teatro e cinema.
Engajada em ações afirmativas relacionadas ao meio ambiente e ao consumo das riquezas naturais, Andrêssa desenvolveu uma minuciosa pesquisa de campo, que resultou, há sete anos, em um projeto pioneiro de moda sustentável no Brasil. A Oficina Callicore Style funciona a todo vapor com a função de difundir técnicas manuais e históricas aplicadas à moda artesanal, propondo trabalhos com as comunidades e a sociedade em geral, por meio de suas oficinas. Essa iniciativa teve o reconhecimento de comunidades de mulheres, instituições e ONGs em todo o país, pela qual técnicas exclusivas de reúso de materiais e reciclagem têxtil são ensinadas. Por conta da aplicação dos pilares da sustentabilidade, que são: reúse, reduza e recicle, o seu trabalho com pedras naturais brasileiras ganhou o mundo. Suas coleções artesanais podem ser apreciadas em polos da moda como: Chile, Holanda, Estados Unidos, Espanha, Itália e Portugal. "A moda, o ecodesign, o design sustentável e o consumo consciente, aliados à arte, tornam-se ferramentas fundamentais para o desdobramento da consciência da sociedade", diz a estilista, que tomou essa teoria como lema.


Dedicação e capricho, são os ingredientes do sucesso
Acompanhe um pouco mais do trabalho da estilista Andressa Faiad nesta entrevista.


Consciência e amor pelo Meio Ambiente
Hollophamma: Por qual  motivo  você resolveu pesquisar e difundir a questão da sustentabilidade, a ponto de criar a Oficina de Moda Callicore Stylle?


Andrêssa: Eu crio moda desde muito pequena, e sempre reciclei tudo que via pela frente e sou assim até hoje, tenho grande preocupação com questões ambientais e sociais, naturalmente isso se sucedeu na minha vida, sinceramente me sinto predestinada a isso, faço profissionalmente com o coração de uma forma peculiar. Estudei moda e realizei especializações sempre em cusos livres e me reciclo em cursos tanto na área de moda quanto na área ambiental, mas logo que comecei eram poucas as universidades de moda, em Brasília não havia ainda, por isso eu sempre vinha para São Paulo. Comecei a estudar e pesquisar muitas coisas e a levantar questões, pois via que a Moda era cheia de lacunas e realmente não encontrava sentido em muitas coisas efêmeras , quando realizei meu trabalho de campo em uma pesquisa em São Paulo, me deparei com uma saturação gigantesca, sou formada em Comunicação Social -Publicidade Propaganda precisava unir essa minha visão de futuro com minha visão de arte e criação, a consciência do consumo, algo que pulsava dentro de mim em valores éticos e de evolução, minha forma de comunicar a moda. E criei a Oficina Callicore, pesquisei nomes e o processo de vida das borboletas foi inspiração pois sempre transformei coisas, e fazer do usado, do feio, da sobra , algo belo e criativo, isso tudo sempre foi algo que me deu prazer e gratificação. E estudei muitas cooperativas, fábricas e processos industriais, cheguei a conclusão que minimizar os processos de produção e as habilidades artesanais que tinha era uma solução para muitos desses problemas. E criei algo onde eu pudesse auxiliar as pessoas, socialmente, no estilo e na moda, no ambiental e na consciência que interage diretamente com a arte terapia, e com um trabalho de reflexão profunda em relação a Sustentabilidade e o que representamos aqui no Planeta.
Nos cursos que dou eu sempre pergunto para os participantes: Quem sou? O que represento? Qual minha contribuição?
Parece complexo, mas essas Oficinas que realizo são verdadeiras escolas de vida, cada uma é um aprendizado. “É importante abrir os olhos para o Universo e enxergar o quanto nosso planeta é rico em recursos e estamos o destruindo.” O primeiro lugar que dei oficina em São Paulo, foi em 2006, na Vila Mariana , no Brechó Tunel do Tempo, na Rua Major Maragliano. Tive uma ótima receptividade das questões sustentáveis e muita gente aqui em São Paulo já trilhava essa caminhada, e escolhi a Vila Mariana como minha morada em São Paulo, é um bairro limpo e tranquilo, onde vemos pessoas preocupadas com essas questões, montei meu ateliê na Cel. Arthur de Godoy, e aproveito as sobras do lixo têxtil da confecção da casa da frente.

Hollophamma: E quais foram os seus grandes incentivadores?

Andrêssa: Eu tenho paixão pela alta costura, desde muito pequena sou admiradora de grandes estilistas como Yves Saint Laurent, John Galliano, Balenciaga, Elza Schiapareli, Lino Villaventura e grandes mestres da alta costura, criei minha alta costura artesanal , reciclada seguidos de uma destemida vontade de enfrentar essas barreiras. Minha visão de de futuro me faz persistir, e tenho visto este trabalho crescer, e fui conhecendo uma série de outras pessoas que trabalham de forma sustentável e sou sempre sou atenada a conhecer o novo, viajei por regiões, e estive em contato com artesãs na região centro-oeste, ìndios e o contato com minha mãe e vó que costuravam em casa e por isso desenvolvi habilidades dentro de fazeres antigos de costura e pintura pois minha diversão desde criança era a coleção “ Mundo do artesanato” Série Mãos de ouro.


Hollophamma: Há essa carência de pessoas no mundo da moda preocupados com o Meio Ambiente, ou além de você existem outras estilistas preocupadas com ações desse tipo?

Andrêssa: Essa carência existe, mas vejo uma quantidade considerável de estilistas e produtores aproveitando este boom que o mercado verde deu, e todos se tornaram sustentáveis e buscam ser, ou se dizem e esse exemplo foi se difundindo e hoje vejo pessoas que tinham esta mesma visão de futuro e esse desejo de compartilhar, se tornando trabalhadores em busca deste ideal e deste trabalho tão significativo que é o de sustentabilidade na moda, um dos grandes fatores que contribuem para problemas ambientais graves. Pessoas diversas, como Andréia Freitas, Ana Cândida, Chiara Gadalleta, Neide Shulte, Livia Limp pioneiras e colegas de Moda que ao mesmo tempo estavam difundindo a moda sustentável à seu modo e seu devido tempo, por outras partes do Brasil.


Hollophamma: Qual a importância do seu trabalho para a moda e consequentemente para o Meio Ambiente? Que lição você tira de tudo isso?

Andrêssa: Pelo formato do meu projeto ser pioneiro com certeza tiro muitas lições e aprendizados de tudo, trabalho sem um apoiador e realizo com muito gosto e a responsabilidade que este trabalho têm é imensa. É desafiador, mas já reciclei nesses 7 anos de Oficina de Moda Sustentável mais de 7 mil peças de roupas pelo Brasil e América do Sul, capacitei já cerca de 1500 pessoas, instituições mulheres em ONGS, no Tocantins, poder levar estes conhecimentos para mulheres que precisavam de um estimulo de trabalho , social e ambiental pois fazeres manuais estão ao alcance de grande parte da população e o artesanato movimenta cerca de 4% do PIB Brasileiro. Transformar o lixo em luxo, poder fazer da coleta seletiva a captação de matéria-prima para mim tudo isso é fantástico, e engrandecedor, pelos resultados obtidos. Só lamento não encontrar tantos apoiadores, mas atualmente vejo que graças a Deus as pessoas têm buscado informação e vêm este trabalho com outros olhos, e uma coisa te digo , eu não me envergonho em dizer que que o que seria lixo eu transformo em luxo, mas infelizmente poucos ainda dão valor a este trabalho. Mas além de ensinar as comunidades, eu ensino as pessoas, vejo essas pessoas renovando-se e reciclando seu estilo pessoal, suas roupas e coisas. Isso traz muita Riqueza, de valores diferenciados daqueles que a sociedade consumista nos apresenta.


Hollophamma: Você acha que através da sua iniciativa de contibuir para o bem estar da natureza, você está ajudando o meio fashionista e os consumidores a serem mais conscientes em relação a sustentabilidade e a preservação da nossa biodiversidade?


Andrêssa: A aplicação dos pilares da sustentabilidade reuse, reduza, recicle, e ser ecológico, está disposto a todo e qualquer meio, o meio fashionista segue o fluxo comercial das tendências, que vendem o que há de novo, o que está em voga. No momento a Sustentabilidade está dentro destas tendências, mas está aí uma mensagem importante a ser captada por nós profissionais de design, estilo, beleza e estética, isso não é um momento, é uma necessidade podermos difundir nossos ideais, o profissional que desenvolve a sustentabilidade é ferramenta nesse novo processo criativo que vivemos, essa visão de futuro, é presente, as pessoas têm se informado e difundindo cada vez mais, O designer tem o papel de conduzir a sociedade na direção correta, no seu papel de facilitar as inovações sociais. Não precisamos ser descartáveis, efêmeros, o valor está na essência, e muitas vezes a desindustrialização é necessária ou industrializar da forma correta respeitando uma série de recomendações presentes na Carta da Terra . Já relacionado ao mercado de Moda Sustentável, Roupas sustentáveis são aquelas feitas com materiais e processos que causam o menor dos impactos no meio ambiente. Roupas feitas com fibras e tecidos reciclados, roupas com fibras de fácil abastecimento por seu rápido crescimento e pensadas sem que haja desperdício de tecido, já que a indústria têxtil é a quarta no ranking das que mais consomem recursos naturais. Para isso precisa ser repensada toda a cadeia produtiva. Com certeza esse é um desafio para todos, muitos dizem que salvar o planeta é impossível, realmente somos seres poluidores, mas se aprendermos a viver pelo menos a cuidar do nosso lixo e de uma forma sustentável seletiva, os volumes das toneladas de lixo com certeza diminuirão e assim a cadeia produtiva se renova. Meu grande prazer de vida é me dedicar a isso, ver esse resultado é gratificante, e isso tem se difundido por todo Brasil,na TV, em cursos que realizo, e acada dia tenhos mais parceiros caminhando nessa jornada do futuro.




Contatos Andrêssa Faiad:
Rua Madre Angelina , 59.
Fone: 55 (11 )8368 -65 83
oficinacallicore@gmail.com
http://callicorestyle.wordpress.com/

Fotos: Ligia Oki